Listen to Your Heart





Roxette foi uma das bandas que marcou minha adolescência. Quando fui morar nos Estados Unidos, sozinha numa cidade de 12.000 habitantes e onde de uma casa não se avistava outra, minha "mãe" percebeu tanto minha solidão quanto meu amor por música e me levou a uma loja de partituras e instrumentos. Saí de lá com a partitura de "Listen to your heart" nas mãos, e pobres pais postiços... Me ouviam tocar dia e noite, non stop. Aos 18 anos tudo na vida tem uma carga emocional gigante, e aquele momento marcava rompimentos e inícios na minha vida. Então, lá estava eu, ao piano, dia e noite.... "Listen to your heart... when it's calling for you.... listen to your heart...nothing else you can do..."

Nunca fui muito fã de ouvir o coração, porque ele gosta de nos colocar em grandes furadas. Depois dos 18 anos e alguns grandes problemas em decorrência de simplesmente seguir o coração me tornei uma pessoa um pouco mais racional. Muito mais racional. Às vezes quase sem sentimento.  Mas a gente cresce, amadurece e alcança o equilíbrio. E foi esse equilíbrio que me salvou de um problema muito maior. Meu conselho para você: seja sensível ao que seu coração e seu corpo estão te falando.

Deus me abençoou com uma mente e um corpo sempre ativos. Nunca fui atleta, mas nunca sedentária também. O que gasto de calorias trabalhando nas caixas de Natal, por exemplo, assustou o nutricionista, uma vez. Não sou fã de corrida, nem de musculação, mas amo caminhar, fazer pilates, yoga, ballet... Já falei várias vezes sobre minhas restrições contra essa obrigatoriedade de correr, malhar e treinar. A não ser que você goste, é claro, só não pode ser obrigatório.

Mesmo sempre ativa, no último ano meu corpo começou a se negar a manter o peso e a se mexer. Simplesmente me dizia não. Eu sempre usava as escadas aqui e na minha mãe. E de repente senti que não devia usar. Deixei de usar. Fazia yoga todo dia. Fui parando, parando, até deixar completamente, porque até a pose do morto estava demais para mim. Fugia da caminhada como o diabo foge da cruz. Exaustão (não cansaço) passou a ser minha companheira diária. Não tinha forças nem pra fazer o jantar. Comecei a ganhar peso e muitas vezes me senti pressionada a correr e malhar, pensando que o que eu tinha provavelmente era preguiça, e que o exercício me traria energia. Mas meu coração dizia: "não. No máximo, caminhar".

Era época de ir à minha médica, e ela pediu centenas de exames. Falei pra minha mãe: "queria que os exames estivessem alterados, aí ela me dava um remédio e essa exaustão ia embora". Mas... exame de sangue com todas as taxas perfeitas. Hormônios, ok. Tireóide, ok. Mamografia, ok. Ecografias, ok. Tudo ok... E lá fui eu. Para encurtar a história, minha super doutora-amiga diagnosticou: meu ciclo menstrual era tão pesado que meu corpo estava gastando toda a sua energia para manter-se funcionando bem. Em resumo, gastava tanta energia para me manter saudável que não sobrava para mais nada. O fim dessa história é que estou de molho, uma semana após a histerectomia. Não foi uma cirurgia fácil, estou fraca ainda, alguns incômodos pós anestesia, mas a exaustão foi embora. Assim como o desespero por carboidratos, que era só o que eu queria comer.

No muito tempo que estou tendo para pensar, isso fica martelando na minha cabeça: e seu eu não tivesse prestado atenção no que o coração estava dizendo e tivesse ignorado? Eu poderia ter tido problemas sérios de saúde, desenvolvido doenças, ficado subnutrida... Talvez tivesse criado um problema muito maior e mais difícil de resolver.

Ouvir o coração é uma arte que se aprende por tentativa e erro. Como tudo na vida, o coração precisa ser tratado com equilíbrio e sensibilidade. Não pode ser o capitão do navio, mas também não pode ser o descascador de batata no porão. A Bíblia avisa que ele é enganoso, mas também manda guardá-lo acima de todas as coisas, porque as fontes da sua vida nascem dele. Você precisa escutar, só não deve aceitar tudo que ele diz!

Talvez, somente talvez, estejamos fazendo a coisa toda ao contrário: ouvimos e seguimos cegamente o coração quando ele fala de sentimentos, mas ignoramos completamente quando nos dá avisos sobre o que está rolando lá dentro. Seguir o coração na área sentimental geralmente é fria, apesar das novelas plantarem em nossas cabeças durante décadas que não há nada que se possa fazer contra o que seu coração diz, e nessa crença lares sejam destruídos e famílias despedaçadas todos os dias. Tem que ser muito maduro para seguir o coração.  Já os sinais de alerta do seu próprio corpo de que algo não está bem geralmente são tratados com desdém ou desprezo e silenciados com mais exercício, mais academia, corridas mais longas. Se sua vida vai nessa toada e não está dando lá muito certo, experimente inverter sua confiança no coração: dê prioridade ao que ele diz sobre seu próprio corpo, mas não sobre corpos alheios!!!!!




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