Profundidade, eternidade, eterna novidade


Há 37 dias meu sangue dói. Não mais o tempo todo, mas de vez em quando me paralisa e corta meu ar, como agora, ao ler minha irmã descrevendo o dia 04/01.
O Deus em quem eu creio é um Deus de coisas novas. Todo dia de manhã as misericórdias Dele são novas sobre nós. Se alguém está em Cristo, é nova criatura. Deixando as coisas que passaram, prosseguimos para o alvo.
E em Apocalipse, João conta que sentado em seu trono de absoluta glória, Ele diz: "Eis que faço novas todas as coisas".
Faço novas todas as coisas... sempre li e repeti isso com alegria, com alívio. Agora não.
Em menos de dois meses de ano novo, perdi meu pai, o dono do meu escritório pediu a sala de volta, minha filha está indo passar 1 mês na Índia, meu marido está com emprego novo... Não sobrou nada da minha velha vida. Nada onde me segurar, nada em que me apoiar. Nada mais é como antes, das minúsculas às gigantes coisas.
E então, comecei a perceber como isso é dolorosamente bom. Assim... é horrível. A situação é horrível e doída, mas quando paro para meditar, quando escuto o que está dentro de mim, é como se lá dentro a maré estivesse começando a subir. Como se águas estivessem se movendo dentro de mim e ao meu redor. Às vezes me lavando, às vezes me refrescando, às vezes simplesmente me levando na correnteza, que pode ser suave ou enlouquecida. Quando a dor vem, é como se eu estivesse na arrebentação de Haena. Quando ela amansa, como se flutuasse pelos corais de Poipu. Eu me entreguei a essa correnteza e estou deixando que me leve. Estou sendo transportada para um lugar que ainda não conheço.
A travessia é difícil, as águas são muito fundas, mas a correnteza me leva. Às vezes as ondas me param, mas daí a pouco ela me leva.
Descubro dia após dia que o amor de Deus existe, mas não é como eu pensava. Passou há muito o tempo em que eu achava que coisas ruins não aconteciam com aqueles que amam a Deus, assim como passou o tempo em que eu pensava que amor era o do príncipe por uma princesa da Disney. Isso é romance, e amor não é medido pelo nível do romance. Romance é pra qualquer um, amor é para muito poucos.
Amor envolve dor, tristeza, confiança. Nesse momento duro, confio que nada saiu das mãos Dele e que nós dois jogamos no mesmo time. E quando esse momento passar, as coisas novas que estão sendo geradas nascerão.
O amor pode, sim, ter a forma de uma tempestade, de um mar muito bravo, assim como também tem a forma de ondas calmas e dias de sol. Na verdade, amor não tem a ver com momento, mas com eternidade. Não "que seja eterno enquanto dure", mas sim que seja eterno. E ponto. Tô na vibe do Cazuza: "amor da minha vida, daqui a eternidade..."
Há uma profundidade no amor de Deus que só agora estou começando a ver. Que amor é esse, que me leva a lugares onde penso que não vou sobreviver, me empurra, me carrega, quebra suas ondas sobre mim, e ainda assim faz com que eu me sinta protegida? Só poderei responder daqui a algum tempo, quando essa correnteza me deixar no meu destino, e antes que a próxima comece a me levar outra vez. Porque é assim... "eis que faço novas todas as coisas"....


Haena



Poipu










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