Caminhando e Cantando!

A minha cunhadinha Renata acha que eu devia escrever um livro de memórias. Mal sabe ela que eu escrevi um livro...Caminhando e Cantando.
Acho que nunca vou publicar, mas ultimamente voltei a trabalhar nele. Bom, eu nem esperava que alguém fosse ler esse blog e outro dia descobri que já foram mais de 1200 acessos, então quem sabe um dia eu tome coragem.
Escolhi um pedacinho para por aqui. Só explicando, não tem nada a ver com a música "caminhando e cantando e seguindo a canção". É que na minha vida tudo tem uma música, ou várias músicas.
Copiei o que escrevi sobre a Lulu. Nem pedi autorização para a mãe dela, mas acho que ela vai gostar:

– Lulu

            “A minha vida é tua vida
            Tudo que sou é totalmente teu, Senhor
            O meu futuro te entreguei
            E o meu passado afoguei no mar do esquecimento do Senhor
            Nova criatura sou, nova criatura
            Eu não sou tudo que você precisa
            Ainda não sou tudo o que queria ser
            Mas uma coisa eu sou, não abro mão, não
            Nova criatura sou, nova criatura
            Ah, eu sou nova criatura, nova criatura
            Nova criatura sou
            Ah, aquele que está em Cristo
            Já morreu para o mundo
            Ah, aquele que está em Cristo
            Vive pra Deus, sim
            Ah, eu sou nova criatura...” (Kleber Lucas)

A Lulu merece um capítulo só para ela. Lulu, a Maria Luisa com S (eu me senti a poderosa quando soube que era com S. Fui a única pessoa que sempre escreveu com Z e nunca levou uma bronca!), marcou a minha vida.
            Há mais ou menos oito anos, chegou em nossa igreja uma mãe com três filhas lindas. A primeira que me lembro de ter conhecido foi a Gabi, pequenininha e desconfiada. Depois conheci a serelepe Lulu, e depois a doce Vic. Logo depois que chegaram na igreja, a Lu começou a apresentar alguns sintomas de que algo não ia bem. Descobriram que ela era portadora de uma doença degenerativa. Começava ali um período ao mesmo tempo difícil e tremendo na vida dessas mulheres. A Lu foi crescendo e a doença se desenvolvendo. Veio a cadeira de rodas, mas veio também a alegria do Senhor. Durante todo o tempo que tivemos esse tesouro com a gente, nunca vi nenhuma delas se queixar, perder a paciência ou o sorriso. Como se costuma dizer, elas pegaram o limão que a vida lhes deu e transformaram numa limonada. Bem doce. Daquelas geladíssimas que refrigeram o corpo e a alma.
            De repente, eu que nunca tinha prestado uma atenção maior na questão da educação inclusiva, de acessibilidade e outros assuntos inerentes a necessidades especiais, continuei sem prestar muita atenção, porque isso se tornou automático para mim. Não existia para nós no Ministério Infantil uma programação que não a incluísse, ou que tivéssemos que dar um jeito de encaixá-la. Ela já era parte de tudo desde o projeto.
            A Lulu era dona de uma personalidade e de uma inteligência ímpares. Conhecia e fazia uso dos seus direitos. Desconcertava aqueles que a consideravam inferior em algum aspecto. Tinha uma auto-estima de dar inveja. Mas o mais impressionante era a fé dela. O amor incondicional a Jesus era marcante demais. Uma vez sua mãe a levou a uma reunião onde estava um pastor conhecido pelas curas que aconteciam em seus cultos, e ao sair de lá arrasada porque a filha não fora curada, e preocupada com o efeito que isso teria na fé dela, Sandra ouviu o seguinte comentário: “Mãe, você viu o que Deus fez lá dentro? Quantas pessoas ele curou?” A mãe ficou desconcertada. A Lulu sabia das coisas. E não achava que precisava de cura.
            Eu também  fiquei desconcertada com ela várias vezes, e em algumas eu me sentia como se quem estivesse na cadeira, presa, fosse eu. Ela era livre, ela voava. Saindo do Hospital de Apoio, que assiste crianças carentes com câncer, a Lu estava arrasada em ver como aquelas crianças sofriam. Como se o que ela vivesse fosse fácil! Conhecia a Bíblia muito bem, todas as músicas possíveis, e até das danças ela participava!
            Sabíamos que nosso tempo com ela era curto, mas durou quatro anos a mais que as melhores previsões. Em março de 2009 o Senhor a levou de volta para casa. Ficou uma ferida nos nossos corações. Como choramos. Eu levei dias para me controlar. Não fomos mesmo feitos para a morte. Cheguei à conclusão que não interessa como ela chega: de repente, devagar, anunciada anos antes ou no susto. A forma como ela chega pode ser mais ou menos difícil de assimilar no primeiro momento. Mas passado o impacto, o buraco que fica é o mesmo em qualquer caso. O primeiro domingo sem a Lu só aconteceu pela graça de Deus. Pensar na colônia de férias e na cantata de Natal sem ela é quase um pesadelo. O consolo é saber que agora ela pode correr e pular, está livre da doença e perto do Jesus que ela tanto amou. A certeza do nosso reencontro na eternidade também ameniza a dor. Lulu viveu pouco, mas foi com muita intensidade e alegria. Sinto uma saudade absurda. O primeiro encontrinho sem ela também foi muito difícil. Toda hora eu me pegava procurando sua cadeira no meio das crianças. E ainda dormi no alojamento em que ela ficou da última vez. Foi duro demais.
            Os dias em que ela passou na UTI e eu sentada no banquinho do lado de fora foram longos e penosos. Mas até ali o Senhor tinha propósitos, e eu acabei conhecendo pessoas incríveis, que passaram por tudo juntas, trocaram experiências, e acho que pude abençoá-las de alguma maneira. Num último e maravilhoso milagre, Lulu pode doar todos os seus órgãos, e eu louvo a Deus porque ela tinha uma família tão consciente, tão voltada para ajudar o próximo. Eles concordaram em prolongar o seu próprio sofrimento para abreviar o de outras pessoas. Isso foi lindo demais. Se já admirava a família, fiquei sem palavras.
            Me alegro por não ter permitido que o fato de saber que ela não estaria conosco muito tempo me impedisse de viver intensamente com a Lu. Nem todas as lágrimas que chorei e ainda vou chorar vão poder superar o amor que tínhamos uma pela outra, a alegria que compartilhamos e as experiências que vivemos. Lulu foi um presente de Deus na minha vida, e eu espero o dia em que vamos nos reencontrar, agora em saúde perfeita. Tenho certeza que vamos apostar uma corrida e vou perder feio, porque ela já está treinando a todo vapor!

Comentários

Unknown disse…
De vez em quando eu costumo pensar ter problemas e que esses problemas podem me fazer inativo pra Deus...

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