O Hamster Rebelde
Mas antes, preciso desabafar: eu sou um Hamster rebelde!!!
Aqui em casa tem um porquinho da Índia, o Prudo. Fofinho, gordinho, quietinho, dono do tempo dele. Ele está sempre na gaiola ou pelo chão do quarto da Amanda procurando o que roer. Morre de medo de tudo. Por sinal, grande parte dos preás domésticos morrem, literalmente, de susto. O que eu gosto nele: apesar do medo, está sempre curtindo uma paz.
De Hamster não gosto: muito pequeno, agoniado, vive fugindo. E tem mania daquela rodinha miserável. Corre, corre, gasta energia, se mata e não sai do lugar. Tadinho do Hamster, na verdade tenho pena.
Nós deveríamos ser como os porquinhos da Índia, mas temos vivido como hamsters. Nessa sociedade de aparências, de comprar para mostrar, para se manter no nível exigido, para gastar os tubos com os preços superfaturados do Brasil, vivemos correndo como hamsters na roda do consumo e das regras baseadas em ter e ser visto. Eu decidi descer da roda, e vou dizer... É difícil. Tenho descido constantemente, e muito em breve não voltarei mais.
Quero dar um exemplo dessa roda, e antes de mais nada quero dizer que não estou julgando ninguém, porque cada um tem um propósito de vida, e não sei qual é o seu. Cada um faz como quer, sempre. Já peço desculpa agora se alguém se chatear.
Meu exemplo são as celebrações: aniversários, chás, batizados, primeira comunhão, 15 anos, casamentos, bodas...comemorar é bom demais, para mim uma das melhores coisas da vida. Depois de viajar.
Mas você já reparou o que nossas comemorações viraram? O aniversário de uma criança virou evento de coluna social. O aniversariante é a estrela, de quem se faz absolutamente todas as vontades. E tem que ter ensaio fotográfico, convites que custam mais que alguns presentes que a criança vai ganhar, tem até cerimonial! Troca de roupa, cardápio personalizado...
Será que isso tudo não é para, de certa forma, compensar aquela criança por toda a nossa ausência enquanto corremos atrás dos nossos sonhos e do dinheiro para pagar a produção? Será que uma criança curte tão mais uma festa de 10 mil reais que uma festa de 100 reais? Será que aquele bolinho com 10 balões na parede não vai falar muito mais alto ao coração dela que um salão cheio de súditos ao dispor de Vossa Majestade? Mais uma vez: cada um comemora como quer, mas quero te fazer parar e pensar, sim. E pode me convidar para a sua super produção, que eu vou curtir muito, compartilhando toda a sua alegria pelo momento.
Mas será que é isso que importa? Poder fazer uma festa dessa? Será que mais tempo disponível não seria mais apreciado?
Pensando em termos de grana, antes de gastar é bom pensar duas vezes. Por exemplo: será que todos os seus convidados vão querer ter em suas geladeiras o convite magnético que você fez com tanto carinho? Coitados dos convidados, sentem que jogar a foto do seu baby fofo fora é pecado, mas o que fazer? No fim, o convite fica lá, entulhando a casa.
E a lembrancinha, tão caprichada e de boa qualidade, mas que nem combina com a sua casa? A festa tem que ser inesquecível para o aniversariante, seus convidados lembrarão dela com carinho mas terão suas próprias festas inesquecíveis. Coisas a serem revistas, repensadas. E analisadas com clareza, até porque, continuando no ramo das festas, tem uma corrente festeira exaltando a volta da simplicidade, da comemoração em casa. Lindo, tudo fofo. Os olhos da cara! Falsa volta ao mais simples.
Dessa roda já desci faz tempo. Convite via facebook e zapzap, lembrancinhas geralmente comestíveis. Não me esqueço de ouvir a criança, nem do meu orçamento, e nem do aconchego. É só uma festa de aniversário, não um mega evento social. Tá bom, a Spa Party foi um evento social, mas deu para entender o conceito.
Para descer da roda o primeiro passo é definir para onde vai, ou seja, ter um propósito. As famílias estão se perdendo por falta de propósito. Vou postar aqui perguntas que respondi do livro "Organized Simplicity", que me levaram a definir nosso propósito como família.
Se você ainda não começou sua própria família também pode fazer. Fica até mais fácil encontrar a cara metade que tenha o mesmo propósito!
O primeiro passo é responder às perguntas com a primeira palavra que vier à sua mente, com a participação de todos os membros da família. No post seguinte contarei o que fazer com elas.
Lembre-se que isso tem que ser bom para todo mundo, então procure tornar o momento divertido, faça um lanche, ou abra um vinho, se não tiver crianças, conduza o processo com leveza. Explique o que você deseja com isso. Envolva toda a família, vocês são um time. Muitas famílias estão se transformando em indivíduos debaixo do mesmo teto, mas somos muito mais que isso. Somos uma tapeçaria tecida por mãos divinas, cheia de cores e formas. Quem inventou a rodinha do Hamster também tirou dele a capacidade de ver o todo.
Relacionamentos dão muito mais trabalho que ganhar dinheiro e comprar coisas. Mas nada nesse universo que se compre pode se comparar à alegria de um coração que faz parte de uma família que se relaciona e enfrenta a vida junta.
Mesmo que você olhe e nem tenha paciência de ler todas as perguntas, insista. Se você quer fazer uma mudança, você tem que se comprometer com ela e vencer as dificuldades, que sempre serão muitas. E, de novo: não pense muito, responda a primeira coisa que vier à cabeça.
Vamos às perguntas:
1- quais são alguns pontos fortes de cada membro da família?
2- coletivamente, somos melhores quando...
3- coletivamente, somos piores quando...
4- se tivéssemos um dia completamente livre, como o usaríamos como família?
5- de que maneiras práticas podemos servir uns outros?
6- de que maneiras práticas podemos servir a outros fora da nossa família?
7- diga 3 coisas que poderíamos fazer melhor como família.
8- o que as pessoas dizem hoje sobre a nossa família?
9- o que nós gostaríamos que as pessoas dissessem sobre nossa família daqui a 30 anos?
10- se nosso lar pudesse ser recheado com uma emoção, qual seria ela?
11- diga 3 adjetivos que você gostaria que as pessoas usassem para descrever o ambiente do nosso lar.
12- se nós pudéssemos nomear um princípio pelo qual queremos que nossa família opere, qual seria ele?
13- quais são as "top 4" prioridades que queremos que nossa família valorize?
14- qual é o propósito principal do nosso lar?
15- qual é o propósito secundário do nosso lar?
16- qual é o propósito de vida individual dos membros da família?
17- de que maneira nossa família é única?
18- descreva o status da nossa família em 10 anos...
- financeiramente;
- intelectualmente;
- emocionalmente;
- no relacionamento entre os membros da família;
- na comunidade em que vivemos;
- fisicamente;
- espiritualmente;
19- onde você estará como família em 10 anos? Como será o seu lar?
20- qual é o sentido da vida?
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