Mãe???? Que morre???????


Há alguns meses me chamaram para fazer parte de um vídeo clipe, e preciso contar um momento muito engraçado que vivi nessa história.
Estava eu sentada no meu canto num domingo à noite, quando fui chamada por um cidadão. Fui atrás dele e entrei numa sala. Sentei e comecei a ouvir. Me contaram que estavam produzindo o clipe de "Quando Chove", e que seria a história de uma filha que perde a mãe e luta contra a dor. Uma mãe que ensinou sobre Deus à filha, e o caminho de volta que essa filha faz até Deus no meio do seu luto. Amei a história e me identifiquei muito, até por ter perdido meu pai e a música ter falado lá no fundo da minha alma. A primeira frase da música: "uma pausa na dor", é algo que só compreende totalmente quem está de luto.
Bom, estava eu lá viajando na história, imaginando as gravações, quando ouço: ..."e a gente queria que você fizesse a mãe". Oi??? Desde quando eu sou a mãe, e ainda a mãe que morre????? Acho que levei uns 5 segundos para absorver e soltar um "fazer a mãe que morre? que fim de carreira!" e todo mundo dar boas risadas.
Gente, como assim? Nasci ontem, nem fui a mocinha de nada e já comecei/terminei a carreira como a mãe que morre?
Mas não demorei para me colocar no meu lugar, minha idade já é a da mãe, mesmo... Só que pelo jeito minha cabeça não é. Foi interessante me ver pelos olhos dos outros. Se por um lado não sou mais a gatinha que vai fazer a filha, tenho crédito suficiente para, no meio de tanta gente, ser lembrada para fazer o papel da mãe. Fiz, curti muito, e ficou lindo. Eu tinha que ser a mãe mesmo. Assumir a fase correta da vida não te diminui, te faz crescer. E tira uma pressão enorme de cima dos ombros.

Já reparou como é inglória a luta contra a idade? A pessoa vai ficando plastificada, dura, estranha. Outro dia fui abraçar uma pessoa que não via há anos e foi estranho, parecia que eu estava abraçando uma boneca de borracha. Bom mesmo é abraçar gente quentinha, macia e aconchegante. Não tem nada a ver com peso, só com textura mesmo.

Saber viver a própria idade é uma arte. Acho que sem saber que sei, eu sei. Me sentir com 15 anos de idade e ser vista como a mãe é uma coisa interessante, me deixa pensando sobre isso de vez em quando, e cheguei a uma conclusão: ser mais nova por dentro que por fora é muito bom, ainda melhor que o contrário. Quantas mulheres de corpo fenomenal estão se acabando em depressão e obsessão, estão constantemente se privando das coisas, usando remédios e fazendo loucuras por sua imagem? Velhas, muitas já mortas por dentro. A vida passa é tudo que elas vêem é o corpo. São incapazes de assumir em si as marcas da vida. Talvez muitas não queiram as marcas que sua vida tem deixado. Não julgo. Mas penso que é muito melhor tratar das feridas emocionais do que se matar numa luta perdida.

Hoje me sinto mais nova que muitas "filhas". Mais nova na cabeça, mais nova no coração, mais nova na disposição. A vida me tornou corajosa, aventureira e meio maluquinha, mas é isso que a gente leva dessa vida para a eternidade.

Não pretendo levar um corpo perfeito para o caixão. Pretendo levar um corpo marcado pela vida. E por marcado, não pense que são apenas marcas de tristeza. Marcas de alegria, de risadas, marcas de arranhões, marcas de intensidade. Meu corpo tem tudo para ir bem até o fim, desde que entendi que é meu santuário e tem que ser tratado com respeito. Ele é meu (e do meu marido), para me levar onde Deus me permitir ou me soprar, ele é leve, para facilitar a jornada, e não precisa de muita coisa, para ter espaço de sobra pra tudo que há de bom nessa vida. Desentulhei não só minha casa, mas também minha mente. Estou aprendendo a desentulhar o corpo também.

E viva as mães dos clipes!!!!!!








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