O Bunker

Não gostaria de falar, mas tenho que reconhecer: minha casa nunca foi organizada. Era uma bagunça controlada, para ser bem sincera.
Decidi que cansei de ser assim, e lá fui eu mudar a rota do Titanic.
Cansei da liberdade culpada. Sempre procurei priorizar pessoas e relacionamentos, mas estava sempre me cobrando das coisas que estavam por arrumar em casa. Eu me conformei com um nível de arrumação aceitável, mas não estava muito feliz.
O que acontecia é que eu nunca me sentia no direito de sentar no sofá e ver um filme relaxada, ou de ir ao salão, ou de fazer as unhas. Meu tempo livre era sempre tomado por alguma atividade que me fizesse sentir que estava dando uma melhorada na casa.
E isso é um saco, com perdão da expressão, porque a vida acontece, a bagunça também, e eu nunca conseguia chegar ao coração dela, ficava só na superfície, mantendo a fachada. Pronto, falei. Fachada!
É bem assim na vida, também. Não cabe nada muito novo porque nunca limpamos profundamente as gavetas internas. Não tiramos o que não serve mais ou está gasto, vamos só acumulando por cima e mantendo bonitinho. Cansei dessa roda eterna. Resolvi mexer lá no coração da bagunça, e está sendo, sem ser dramática, uma libertação.
Cada dia um canto, ou às vezes vários dias no mesmo canto, como no caso do Bunker.
Gente, o Bunker...
Até aqui, para mim, está sendo a experiência mais legal. É um lugar da minha casa que resistiria a uma guerra de mais ou menos 1 ano. Comecei achando que era uma "casa dentro da casa", mas agora já até cogitei em deixar, para o caso de uma catástrofe mundial. Ali seria possível sobreviver um bom tempo.
Achei de tudo: tudo que tem dentro da casa tinha uma parte lá. As conseqüências eram, principalmente, 2: nenhuma interação com os outros habitantes locais, já que não era preciso sair para pegar nada e uma bagunça louca, porque uma casa dentro de um quarto é desproporcional.
Eu me senti envergonhada: onde eu estava quando permiti que um membro da minha família pensasse que tinha que ser auto-suficiente quando deixei que esse sentimento de não pertencer à casa se estabelecesse? Tudo que eu ia pegando para levar para o lugar vinha acompanhado da pergunta: "e se eu precisar"? Para mim a resposta era óbvia, mas na verdade não era nada óbvia.
Mais do que arrumar o bunker, meu alvo é acabar com esse sentimento de insegurança, de que vai faltar alguma coisa. E também, olhando sem muito sentimento, acabar com essa preguiça de levantar e buscar as coisas fora do alcance da mão!


Ex-bunker, agora um lugar gostoso de estar.

Eu nunca tinha parado para realmente pensar nisso, mas ter um lugar para cada coisa em vez de todas as coisas em cada lugar provoca interação. Eu já até tinha entendido isso na questão da TV, mas não tinha pensado tão longe, em coisas pequenas também.
Interagir é o princípio básico da existência de uma família. Quando estabelecemos que queríamos que nossa casa fosse um refúgio, não era nesse sentido… Pode até ser um bunker, mas tem que ser coletivo, uma "casa bunker".
Abaixo os bunkers dentro de casa!
Tem até flores!

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quais são suas intenções com a minha filha?

Beleza Colateral

O DIA EM QUE EU VIREI GENTE GRANDE