Salto ou Flip Flop?

Passei as últimas 48 horas dentro de casa, só saí ontem à noite para estar com meu grupo Royal Kids, e voltei e me soterrei em minhas coisas novamente.

O que estou fazendo é muito mais do que um "bazar de gringo". É um marco na minha vida. Estou fisicamente cansada, mas a minha mente está exausta, e as emoções afloradas. Eu sempre tirei coisas para dar para quem dissesse que ia fazer um bazar, ou para o bazar das caixas de Natal. Deus sabe que não me furto de dar e tirar coisas. Mas isso é diferente. Não é só tirar o que não uso, é tirar o que não faz mais parte. É encarar a mudança até a última agulha do fundo da gaveta do "entulier". Tudo que foi tirado ou deixado foi analisado. Tudo. E ainda tenho a sensação que posso ir mais fundo, só não sei se tenho forças. Talvez seja mais sábio deixar para outra rodada, afinal eu prefiro acabar o fim de semana viva...

Uma mudança de rota de vida não acontece de um dia para o outro, e nem sem sacrifício ou dor. Mas assumir essa reviravolta me traz um senso de força e dignidade muito legais. Eu tive que assumir que algumas decisões, alguma compras e algumas atitudes não foram boas. Para uma cabeça muito dura assumida como eu, trocar de rota é muito difícil, porque me obriga a assumir que eu não estava no caminho perfeito. Assumir a imperfeição é horrível. Mas pior é deixar de mudar para não descer do salto.

Tenho aprendido a descer do salto. Desço morrendo, mas desço. Às vezes desço mas ainda fico na ponta do pé, mas não adianta. Quem não desce no salto anda muito devagar. Lembrei de um trabalho que fiz quando estudei nos Estados Unidos: diante de um texto sobre a bomba H, eu tinha que fazer um texto comparando a bomba e o salto alto. Achei que o professor estava me zoando, achei mesmo. Fui para casa, li e reli o texto e, resumindo, minha conclusão foi a seguinte: os dois são armas de controle, com estratégias bem distintas. A bomba intimida, a noção da existência dela é suficiente para que tenha o efeito desejado. O salto, ao contrário, dá a sensação de poder, e é extremamente sutil. O salto diminui a velocidade do andar, o salto limita. No início achei esse trabalho ridículo, depois amei. Muito real isso, o salto alto tira o seu equilíbrio, te fragiliza e, por mais que você seja mestre do salto, jamais será capaz de andar a mesma distância que andaria sem ele. Você se sente poderosíssima, mas está controlada, não vai tão longe. Seu corpo gasta muita energia extra para se sair bem em cima de um par de agulhas. Basta ver meu grupo de chiquérrimas em NY que não conseguiu um taxi e teve que andar duas quadras em cima de seus saltos. Levamos quase meia hora, e chegaram mortas.

Já fui muito Sex and the City, New York e salto alto. Hoje só quero ser Soul Surfer, Kauai e flip flop (chinelo). Ainda ando de salto, claro, mas só o sapato mesmo. De resto, só quero sorrir diante do futuro.






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