Beleza Colateral

Há um tempo Will Smith lançou um filme que foi detonadíssimo pela crítica: Collateral Beauty, traduzido como Beleza Oculta. Na tradução do título já ficou metade do sentido do filme. Caso você não tenha ouvido falar, é a história de um homem que perde a filha e fica bem pirado. Escreve cartas para o Amor, o Tempo e a Morte, que vêm responder pessoalmente.

Como sempre acontece, se a crítica odeia, eu amo. O que a Morte, o Tempo e o Amor têm a dizer são pérolas preciosas. Mas a frase que dá o título ao filme não me sai da cabeça: "Certifique-se de perceber a beleza colateral". Essa frase quem ouve é a mãe de uma menina morrendo de câncer no quarto em frente. A beleza colateral. A beleza como efeito colateral da morte. Há beleza na morte? Na morte em si não vejo, mas quanta beleza vejo surgir a partir dela. Na natureza, a semente morre e nasce a planta. Na vida, as pessoas morrem e seus frutos aparecem. O processo de morte aproxima os vivos, restaura relacionamentos, dá uma nova perspectiva à vida em si e nos faz ver que somos muito pequenos diante do universo.

A morte é uma espada no coração de quem vive. Perder alguém é uma dor profunda, uma ferida que pode ficar aberta e sangrando por anos, pode inclusive nunca fechar. É uma destruidora de sonhos, um rolo compressor passando lentamente sobre a alegria e a inocência. Ela abre nossos olhos para a realidade de que coisas ruins acontecem com pessoas boas a qualquer tempo e em qualquer idade. Procurar e ver a beleza colateral é um caminho de cura. A dor permite uma abertura espiritual e uma conexão com Deus como nenhuma outra circunstância.

Outra frase fantástica do filme vem do Amor: "eu estou em todas as coisas, inclusive na sua dor". Deus é amor. Ele está inclusive na sua dor, porque quem não ama não sente dor. O tamanho da sua dor pode revelar um amor que você nem sabia sentir. Também pode abrir nossos olhos para ver como carregamos dentro de nós tanto da pessoa que perdemos, ou como nossos filhos espelham essa pessoa. A saudade de alguém que morreu transcende o mundo físico, nos conecta com o espiritual. Nos força a acreditar na vida após a morte, caso contrário não há consolo possível. Eu creio na vida após a morte, na eternidade criada por Deus, para a qual o caminho é Jesus, por meio da sua morte e ressurreição.

Diante da morte, podemos nos trancar e muito provavelmente pirar, ou podemos procurar pela beleza colateral, que vai nos conectar muito mais profundamente com o universo, com Deus e com a vida. A morte traz, como efeito colateral, vida. Cabe a nós escolher como encarar o que Ele chama de "último inimigo a ser vencido". Eu escolho ver a beleza.