Para Pedro, Fernanda e Patrícia

Sexta-feira, duas e meia da tarde, meu whatsapp treme... " Tia Cla, chamaram toda a família lá no hospital, você leva a gente?"
Terminei de engolir o que comia e fui. Um caminho tão conhecido, nem dá para contar quantas vezes fui até lá buscar e deixar duas meninas fofinhas, uma tímida e uma faladeira que só ela. Fomos a tantos lugares juntas, fizemos tantas coisas! Foram muitas risadas, muito amor espalhado, muitas crianças conhecendo a Jesus, a começar delas mesmas.

Quando entraram no carro, aquelas duas jovens mulheres de repente viraram de novo minhas pequenas. Só que em vez de ir a algum lugar divertido, elas estavam indo se despedir do pai tão amado. Deus recolheu aquele pai para si, talvez no dia mais difícil de todos: foi sepultado no dia dos pais.

A mãe delas me enchia de perguntas, chorando com e por suas crias. Sua pergunta mais insistente era: será que sou uma boa mãe? Sim, você é uma ótima mãe. A maneira como os filhos encararam a situação mostrou que os pais fizeram um excelente trabalho. Tudo o que aconteceu foi de uma tristeza indescritível, mas eles foram incríveis. Serenos, em paz apesar de muito tristes, em harmonia.

A vida dessa família não foi um mar de rosas, e talvez olhando fatos isolados alguém julgasse errado. Mas o tempo mostra tudo e naquele momento, quase 20 anos depois de ver aqueles três irmãos pela primeira vez, o que vi foi a bênção de Deus sobre uma família que um dia teve um encontro com Ele. O toque consolador, a providência, o cuidado com detalhes que só Deus tem.

Por mais estranho que possa soar, se por um lado a última coisa que eu gostaria de viver seria aquele domingo, por outro me senti muito privilegiada por estar ali, por ser lembrada como a mão que ajuda, como o ombro que apoia, como o colo que conforta. Por ter visto e vivido a vida, principalmente com as meninas. Na porta do hospital um tio me olhou e falou: "não conheço você, não sei se você conhece a história da família." Uma risadinha, e a resposta: "é, conhece um pouquinho...." Conheço o suficiente para amar muito. A vida nos separou fisicamente, mas nunca emocionalmente. Mesmo morando longe de vez em quando acontecia uma visita para aproveitar nosso colo. Tive uma sensação de muito amor envolvido, a expressão da moda que geralmente não passa nem da porta do hospital, que dirá do cemitério.

Se a gente pudesse entender o que é amor de verdade... Amar via rede social é fácil, estar presente não é. Amar com oração é fácil, carregar o caixão não é mesmo. Amar é um todo: orar, mandar mensagem, figurinha e foto, estar na porta do hospital, do cemitério e da maternidade. Rir e chorar em igual intensidade. Amor é um laço invisível, desprovido de qualquer tipo de rótulo e distribuído por Deus, disponível para qualquer pessoa deste mundo.

Lembrei do meu último post, sobre a beleza colateral. Quanta beleza colateral vi ali. Amor, tempo e morte se manifestando em toda sua magnitude. Muita dor onde há muito amor. A preciosidade do tempo vivido juntos, e a delicadeza da morte ao respeitar o tempo que cada um precisava para dizer adeus. Deus cuidou de tudo, até do tempo na agenda deles para que pudessem estar presentes.

A vida bate, e bate forte. Mas para cada batida dela Deus tem um consolo. Ele tem uma anestesia para os primeiros dias, de modo que a dor seja suportável. Amigos, memórias, o ritmo da vida que continua, as novas descobertas e oportunidades que
vêm para nos fazer suportar os dias que vão se sucedendo.

Um pai que se vai é como uma semente no solo. Os frutos da vida desse pai vão se manifestar por gerações, quem ele foi se eterniza na sua descendência. O amor que distribuiu vai continuar vivendo.

Para essa família, um desejo e uma oração: que o consolo do Espírito Santo e a paz impossível que Ele dá acalme, sustente e conforte cada um, abrindo seus olhos e corações para a vida que está à frente. Ela continua, entregou um legado a vocês e é bonita, muito bonita.

Quando precisarem, colos e abraços aqui são grátis e ilimitados, podem aparecer.

tentei muito achar uma foto das duas juntas onde aparecessem inteiras ou pelo menos desse para ter certeza de quem eram... Foi o que se pode arrumar, entre as 13 pessoas que entravam no carro!!!!!!!











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