Não, não foram dias fáceis. Na verdade, foi uma caminhada de dor.
Quando tive a ideia de ensaiar uma cantata de Natal com minha galera, e dar a eles a oportunidade de sentir como é maravilhoso dar, sabia que não seria fácil, mas não sabia como seria a jornada.
Nos últimos três meses o que vi foi a manifestação brutal da humanidade sem Deus. Um pai assassinado, ameaças de morte (não a mim, mas a um garoto de 11 anos), uma adolescente grávida perdida para o crack, tentativa de assassinato, agressão, acusação de estupro, roubo, drogas, drogas, e um pouco mais de drogas. Não era filme, era a rotina. É ainda.

Se não fossem os anos de experiência com os planos totalmente improváveis que Deus coloca na minha cabeça, o dia de ontem não teria acontecido. Acho que não chegamos a ensaiar nem 15 vezes nesses 3 meses, e sempre foi no meio do caos, gente entrando e saindo, caindo e levantando, sofrendo. Tenho certeza que quem acompanhou e ficou junto até o fim sabia que eu só podia estar vendo algo onde ninguém via.

Um dia Deus me falou que eu não poderia resolver nem evitar os problemas (e que problemas...) na maioria das vezes, mas que eu não me abalasse. A minha missão é colorir o mundo deles, sair pela tangente abrindo novas perspectivas, e é nesse entendimento que eu ando. E foi assim que chegamos ao dia de ontem.

Durante a semana tive 1000 razões para querer desistir, reconhecer o tamanho da besteira que estava fazendo, jogar a toalha, entregar os pontos, botar a viola no saco e partir para a próxima. Estava andando numa estrada com sinais vermelhos, alertas, sirenes, placas de rua sem saída. Em alguns momentos, pensei em voltar, por causa dos outros envolvidos. Mas eu não sei desistir. E foi assim também que chegamos ao dia de ontem.

Chegamos ao teatro às 8 da manhã, seguidos pelas crianças, com uma notícia: quem mais tinha falas na peça passou a noite na farra, chegou às 6 da manhã em casa, completamente drogado. Não foi. Parece que foi para fechar com chave de ouro a jornada.

Mas aí os ônibus chegaram com as crianças, nosso coração bateu forte, e tudo aconteceu. Uma peça mal ensaiada, sem tempo de ser realmente trabalhada, ficou linda. Teve riso, teve choro, música legal. E depois, as caixas. Estavam lindas, nem sei agradecer às mãos que trabalharam tanto. De repente, ali estavam aqueles 3 adolescentes (sim, de 19, chegaram 3 ao final), entregando presentes, abraçando, beijando. Choraram de alegria, tiveram um dia lindo.

Em números, o que aconteceu ontem foi muito pequeno. 3 adolescentes da casa, 150 crianças da comunidade. Mas em impacto, não dá para medir. Era impossível fazer isso, inclusive a última música da cantata se chama "era impossível, sim" muito apropriadamente.

Mais uma vez, o impossível aconteceu. Quis fazer esse post para agradecer a todos vocês que, de qualquer forma que tenha sido, se envolveram. Não era possível. Mas foi lindo demais.

Mais uma vez, obrigada. Foi um dia simplesmente inesquecível.




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